
As farmácias fantasmas que só existem no papel estão sendo usadas em um golpe milionário contra a Farmácia Popular, programa do Ministério da Saúde que distribui medicamentos de graça ou com desconto à população brasileira. Mas o pior, o esquema de vendas fictícias usa até nomes de pacientes mortos para desviar dinheiro do governo federal.
De acordo com um relatório de auditoria da CGU obtido com exclusividade pelo Fantástico, a estimativa aponta R$ 2,6 bilhões de desvio em todo Brasil, entre 2015 e 2020.
O Rio Grande do Sul ocupa lugar de destaque no cenário das fraudes, segundo apurou a reportagem. O ponto de partida da investigação são queixas de cidadãos que aparecem na lista de retirada de medicamentos, sem nunca ter recebido algum tipo destes remédios.
A descoberta foi possível graças a nova plataforma, ferramenta ConecteSUS, criada pelo governo federal para controlar o sistema de vacinação. Além do calendário de imunização, o aplicativo também mostra a lista de remédios supostamente liberados aos usuários.
Ao verificar essa aba na ferramenta, um funcionário público de Porto Alegre percebeu 11 retiradas de remédios em seu nome, entre julho e novembro de 2020, em uma farmácia na Zona Norte da Capital.
“Eles [os medicamentos] servem pra hipertensão, diabetes e colesterol, doenças que nunca tive”, afirma a vítima da fraude.
Auditoria
Um relatório de auditoria da Controladoria Geral da União (CGU) revela um rombo de R$ 2,6 bilhões de reais no Farmácia Popular entre os anos de 2015 e 2020. É mais que o valor total gasto pelo programa em 2021.
Para chegar a este número, os auditores cruzaram os valores cobrados do governo federal por mais de 30 mil farmácias credenciadas em todo o país com as compras de remédios que elas fizeram dos fornecedores. As notas fiscais para comprovar 17,9% dessas aquisições não foram encontradas.
No documento enviado ao mês passado ao Ministério da Saúde, a CGU pede que o ministério adote providências para recuperar os recursos pagos indevidamente aos estabelecimentos credenciados e faça o bloqueio urgentemente do sistema nas farmácias envolvidas.
Texto: Eduarda Mantovani
Foto: Divulgação